Do lado de cá: Holanda - O Primeiro Mês

As vésperas de completar um mês de Holanda, eu arrumo as malas novamente. O destino agora é Paris... Sendo essa a primeira viagem de muitas que esse ano laranja me reserva, eu deveria estar radiante de felicidade, mas não me sinto completamente assim...

Talvez o sentimento de estranhamento e medo tem martelado na minha cabeça exatamente porque eu estou saindo da minha recém-construída zona de conforto. Durante esse primeiro mês ela foi sendo cuidadosamente montada e agora eu me pego tendo que caminhar para fora dela por alguns dias. Para quem nunca fez isso antes, acaba sendo um pouco assustador.

Mesmo não estando super animada com essa viagem, como eu ficava quando ainda apenas sonhava com ela, eu torço para que Paris me conquiste num piscar de olhos. Torço para descobrir que os medos que tem me atormentado nos últimos dias, se mostrem infundados. 

De qualquer forma, descobrirei amanhã e para falar a verdade, eu tenho plena consciência de que Paris merece um post a parte nesse blog. Então, vamos falar sobre os meus 30 dias longe do Brasil ou, se você preferir, 30 dias de Dutchland.

Deixar o Brasil para trás não foi fácil. Como eu já havia dito antes em outra ocasião, ir embora me custou muitas lágrimas sofridas. Mas ao chegar na terra dos moinhos, bicicletas e tulipas, eu percebi que vários sorrisos estavam guardados para mim aqui e que com o tempo, eles substituiriam as lágrimas derramadas no meu país. 

Esse mês foi, acima de tudo, sobre adaptação. Ao novo país, cidade, casa, pessoas, clima, costumes, a saudade e a distância. Descobri e experimentei sentimentos maravilhosos e terríveis que eu nem sabia que existiam. A quantidade de coisas que já vivi aqui me sobrecarregaram e nem parece, quando paro para pensar, que dava para viver tudo isso em 30 dias sem explodir.

Não é justo resumir o que passei aqui, esses fatos merecem maior consideração, mas se eu não fizer isso, provavelmente ficarei escrevendo até o meu segundo mês de Holanda... Então, que seja o resumo...

Nesse mês eu já: amei e odiei o clima da Holanda, já detestei Amsterdam pela confusão de bikes, pessoas, carros e trens, até que, "lentamente e depois de uma vez só" me peguei apaixonada pela cidade da liberdade. (Que, por incrível que pareça, é menor do que Goiânia. Goiânia possui cerca de 1,3 milhão de habitantes, enquanto Amsterdam possui cerca de 800 mil) Já dei boas vindas para novas amizades e, quando achava que só teria que me despedir novamente em 11 meses, eis que me vem a Déborah e volta para o Brasil, sacaneando com o meu coração e garantindo um "tot ziens" (adeus) logo no meu primeiro mês aqui. Nos ombros dos meus hosts eu já chorei de tristeza e de rir (eles são uma família tão maravilhosa, que merecem uma aba nesse blog só para eles. E ela virá!) e, principalmente, já quis voltar para o Brasil inúmeras vezes, mas sempre mudo de ideia no final das contas...

Encarar uma experiência tão diferente de tudo o que você já viveu, acaba te ensinando algumas coisinhas... Eu percebo hoje como sou sortuda por estar aqui, quando tantas outras pessoas gostariam de ter essa oportunidade, eu sinto uma certa invejinha branca das meninas que estão voltando e logo logo vão abraçar suas famílias novamente e sentir aquele calor brasileiro (tanto do clima, quanto do povo) que a gente sente tanta falta no meio do clima gelado daqui. Mas a lição mais valiosa desse mês foi que: por mais que eu ame essa experiência e saiba que vou ficar o ano todo aqui, eu descobri que nasci para viajar e não para morar fora do Brasil. Entendem a diferença?

Digam o que quiserem, mas só quem está longe de tudo o que já conheceu, sabe o que eu estou sentindo. Não é que não seja gratificante, que não seja bom, que não seja desafiador. Não é que não me faça feliz viver isso (porque me faz!), mas não 100%... Porque eu gostaria de ter as duas partes ao mesmo tempo, o Brasil e a Holanda juntos.

No meio de tantos costumes diferentes dessa terra laranja, eu encontrei em mim uma 'brasilidade' enorme e me orgulho disso. Não sei quais serão as próximas descobertas desse ano, não sei como vou estar quando ele terminar, mas tenho certeza de uma coisa: dividindo os meus passos com os canais e as bicicletas, vou me perdendo e me achando por centenas e centenas de vezes. 

Holanda - Outubro de 2013

Postado por Unknown